Fatto a mano
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Bespoke ou su misura não são exatamente termos novos, mas certamente a popularidade dessas palavras vem sendo disseminada cada vez mais entre empresários, bem-nascidos, celebridades e esportistas por aqui. É como se fosse a alta-costura para os homens. Para cada cliente é desenvolvido, de acordo com suas medidas e seus desejos, um corte próprio, ajustado exatamente ao seu corpo e que corresponda a sua personalidade e necessidade. Algo comum de encontrar em Londres, na Savile Row, e em outras ruas das principais capitais da moda mundo afora, e que recentemente começou a ganhar espaço no guarda-roupa dos brasileiros mais elegantes. O motivo? A simetria perfeita.
Bespoke-se
Alexandre Won traz na veia, e em seu charmoso e agradável ateliê, em São Paulo, técnicas clássicas dessa arte. Formado em Direito, o alfaiate precisava de roupas para trabalhar logo depois de se formar. Testou alfaiates, grandes marcas nacionais e internacionais, tudo em vão. “As pessoas não conseguiam entender o que eu queria”, diz. Isso porque Alexandre foi educado desde pequeno a se vestir de forma diferente. Sua mãe, modelista e estilista, fazia suas roupas e de seus irmãos desenhadas no corpo, com modelagem individual. “Tenho facilidade com desenho, com proporção, e sempre gostei de trabalhos manuais. Resolvi fazer minhas próprias peças”, conta. E nunca mais parou. Fez seu guarda-roupa, de seus amigos e montou seu primeiro ateliê. “Muito do que aprendi foi por tentativa e erro, intuição. Acordava à noite, cortava e dobrava guardanapos até desenvolver minha própria técnica. Estudei escolas italiana, francesa, americana e tive um professor para aprimorar minha técnica”, afirma. Aprimorou tanto que inovou o método de fazer um costume. Alexandre risca e corta da frente para as costas, o oposto de como os alfaiates sempre fizeram. “A assertividade é muito maior. Enxergo o corpo de um jeito sempre pela frente para depois puxar para as costas. Consigo trabalhar ângulos, volumes e curvas mais finas, acentuadas, que na forma clássica não é possível atingir, dá erro, torce”, explica.
De alguma forma ou em algum momento, o alfaiate teve suas influências internacionais, como Ozwald Boateng, da Savile Row, com suas cores e cortes secos; a marca italiana Brioni, que se repaginou ao colocar os músicos do Metallica como estrelas da campanha; e Joshua Kane, que faz uma alfaiataria andrógina, fora da caixa.
Fernando Fernandes, Kaká, Roberto Justus, Rodrigo Lombardi e Bruno Setubal são adeptos do método bespoke de Alexandre. “Alfaiataria sob medida é adaptada para chegar perto da medida do seu corpo. No bespoke, não usamos base, molde, parte tudo do zero. Tiro medidas, circunferências, ângulos, profundidades e altura do corpo. Observo postura, como o cliente anda, senta, se curva, coloco tudo num papel e começo a desenvolver. Respeitamos todos os ângulos, dilatações e postura”, completa. O cliente faz de duas a três provas, e dentro de quatro a cinco meses a roupa está pronta. O custo é a partir de 10 mil reais. Para o alfaiate, a elegância não está apenas na forma de se vestir, mas em como o homem se comporta, seus hábitos. “Elegância é ser educado, ter respeito, educação, humildade e, claro, se vestir bem”, finaliza.
Su mistura
O consultor de moda e empresário Bruno Colella, da BRNC, também respira alfaiataria desde a infância. Seu avô, Nicola Colella, foi um dos pioneiros a transformar a arte da alfaiataria em indústria. “Ele era de uma família tradicional de alfaiates, que iniciou seu trabalho no Brasil na década de 40”, conta. Com todo esse background era natural que os amigos pedissem consultoria. E foi o que aconteceu quando começaram as festas de 15 anos e todos precisavam de alfaiataria. “Eu levava todo mundo à fábrica, vestia os amigos, amigos de amigos. Isso começou a ficar recorrente”, diz. Nem mesmo a formação e sua carreira em comércio exterior conseguiram tirar o empresário de dentro da fábrica. A procura se tornou cada vez mais forte e Bruno resolveu seguir o caminho da alfaiataria clássica de seu avô. “Estou com meu ateliê há quase quatro anos, faço o atendimento e todo processo de peças sob medida aqui”, diz o empresário que atende noivos, publicitários, advogados e jornalistas.
Seus dois alfaiates têm duas bases de modelagem, a primeira slim e a segunda regular. São tiradas as medidas e cria-se uma base para cada cliente. O processo leva 30 dias em média, com três provas de roupa. A partir de 5,5 mil reais você sai do ateliê na Vila Nova Conceição, em São Paulo, com um costume, e a partir de 6,8 mil com um terno de lã fria importada.
Bruno costuma viajar para acompanhar coleções de algumas marcas inspiradoras, como Paul Smith, Dior e John Varvatos. Sobre a importância da alfaiataria no mercado corporativo, ele afirma: “Quando visto um terno eu produzo de forma diferente, eu sinto que meu trabalho acontece de outra maneira, as pessoas me tratam com mais respeito. Se o terno for bem cortado, a credibilidade é dupla. Sob medida é a roupa que veste o cliente. Na loja, é o cliente que veste a roupa”, explica.
Personalizado
Depois das 17h e com data marcada você consegue um sob medida exclusivo com o próprio Ricardo Almeida, estilista da marca que leva seu nome há mais de 33 anos. Isso porque ele passa o dia na fábrica que abastece 17 lojas próprias e 110 lojistas. “Antigamente atendia 14 clientes num dia, ficava doido. Não faço mais isso”, diz o homem que veste Reynaldo Gianecchini, Tiago Leifert, Tite, Anderson Silva, Minotauro, José Aldo e mais um tanto de empresários, publicitários e esportistas.
O atendimento é personalizado. “Só preciso de uma diretriz e entender a necessidade do cliente para criar.Seja uma coisa louca vermelha, mais clássica azul ou um xadrez dândi”, explica Ricardo. Para ganhar tempo, o estilista usa uma base e ele mesmo faz o molde na fábrica. “Mas isso não quer dizer que você vai aproveitar a base, às vezes tem que mudar tudo”, afirma. O prazo de entrega é de uma a duas semanas com três ou quatro provas de roupa. O preço é a partir de 15 mil reais.
Mas há casos e casos. Dependendo da silhueta, Ricardo começa do zero, sem molde. “Esse trabalho faço com meu alfaiate junto porque o processo de montagem é diferente, da prova em branco. Provar o tecido sem entretela, sem nada”, explica.
No início de sua carreira, no fim dos anos 70, as inovações de Giorgio Armani serviram como base de inspiração. Hoje é Ricardo Almeida quem inspira muita gente. “Minha marca está muito ligada a deixar o homem mais magro e longilíneo, então seria difícil trabalhar com outra proporção [Ricardo fala sobre a recente tendência na Europa de roupas mais amplas]. Um terno maior pode deixar o sujeito com aparência de três a quatro quilos a mais. Já o slim, deixa isso a menos. A gente faz um desenho no corte para deixar quem veste a peça sem barriga. Tem cliente que brinca e diz que não vai mais para a academia”, finaliza. Simetria é a palavra-chave.