Medo de barata

A barata vive em ambientes que nós associamos a lugares ruins, como esgoto e lixo. Então, tudo que associamos à sujeira e à imundice, relacionamos à barata. Outros insetos, como o cupim, são tão nocivos à saúde quanto a barata, mas nós não temos o mesmo medo. Isso porque nós interpretamos a barata como sendo mais nociva por conta do locais nos quais ela vive.

Muitos falam que têm nojo de barata porque está ligada à sujeira, o que é uma emoção compreensível. Mas isso não quer dizer que esse nojo seja suficiente para explicar a fobia, porque muitas situações nojentas não geram a fobia que a barata gera. Ela é um inseto simbólico, talvez por fazer parte do cotidiano de todos nós, independentemente da classe social e do lugar onde moramos.

Outro motivo é a imitação, o aprendizado do comportamento. A criança tende a imitar o comportamento que ela vê nos adultos que cuidam dela. Se cresce em uma casa, onde um adulto que é significativo para ela tem muito medo de barata e quando vê entra em pânico, a criança interpreta esse medo como natural. Ela tende a reproduzi-lo. Mas essa imitação é inconsciente. O cérebro dela assimila aquele comportamento como sendo o desejado relacionado à barata.

Outra possibilidade é quando a barata se associa a uma experiência traumática. Esse fato pode gerar um medo que persegue a pessoa por muito tempo. Por exemplo: ela estava dormindo e acordou com uma barata pousada no rosto, isso trouxe muito desconforto, sensação de impotência e gerou um trauma. Ou essa pessoa é assaltada e na hora tinha barata perto do local.

No inconsciente, muitas vezes, temos dificuldade de lidar com temas que geram muita angústia. Em geral, uma situação vai gerar angústia em função de como aprendemos ou não a lidar com aquele tema na nossa criação. Então, o que o inconsciente faz? Ele usa um recurso chamado deslocamento, que é o que: o medo, a angústia que sinto transfiro para uma outra coisa. É uma forma do inconsciente nos defender da angústia gerada por aquele assunto.

Se uma mulher tem muita dificuldade para lidar com a sexualidade dela, se aprendeu que sexo é sujo, inconscientemente, ela pode deslocar essa angústia para uma outra coisa, que socialmente ela pode se expressar sem ser criticada. A pessoa não tem consciência que usa esse recurso de defesa. Até porque, do ponto de vista objetivo, o medo de barata é algo totalmente irracional. Qualquer ser humano consegue matar uma barata. Se é um medo irracional, a origem dele é emocional, vai além da razão. A pessoa precisa entender de onde vem essa angústia e tratá-la. Se fizer isso, vai viver muito melhor.

É interessante que as mulheres tendem a ter duas vezes mais fobia de barata do que homens. Se pegarmos a questão da projeção e do deslocamento como explicação para esse medo, poderíamos pensar que, em relação à sexualidade, as mulheres têm uma educação muito mais repressora. Nessa perspectiva, seria mais fácil entender esse dado. Elas, nesse caso, tenderiam a projetar a dificuldade em lidar com a própria sexualidade no objeto externo, a barata, que está associada ao que é sujo, que não é digno. Do ponto de vista simbólico, a associação entre barata e sujeira tem muitas reverberações.

Há tratamento e há cura para o medo que se tornou fobia. Tem um medo considerado dentro dos limites, que você acha a barata um bicho nojento, mata e pronto. É o medo saudável, porque é um bicho que pode transmitir doença. E tem o medo fóbico, que já está dentro de uma reação doentia, quando a pessoa entra em pânico, sobe no sofá e grita. Todo medo que nos paralisa, é considerado patológico. Nesse sentido, o ideal é que a pessoa procure tratamento. Existem várias formas, depende muito da abordagem do profissional que vai atender. Por exemplo: a abordagem comportamental vai trabalhar com a explicação da aprendizagem, a psicanalítica vai trabalhar com as explicações baseadas no inconsciente. Cada psicólogo vai lidar com a fobia de uma forma diferente. O ideal é que a pessoa procure ajuda para entender a origem desse medo.

O medo do rato é parecido com a questão da barata. Tanto que rato, hamster e porquinho-da-índia são todos roedores. Só que porquinho-da-índia e hamster são animais de estimação e ninguém tem nojo e medo, já o rato não. Pela mesma razão da barata, por viver no esgoto e no lixo. Agora cobra é diferente. É um medo que está registrado no DNA humano, que foi se desenvolvendo no decorrer da evolução da nossa espécie, porque a cobra é realmente um animal muito perigoso, que ameaça a nossa sobrevivência.