Saiba tudo sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta

ILPF

Canal Rural
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em 28 de mai. de 2017
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Um dos grandes desafios da agropecuária mundial para os próximos anos é, sem dúvida, conseguir fornecer alimentos para uma população que não para de crescer utilizando a mesma área. Pensando nessa meta, há alguns anos o Brasil vem estudando e aprimorando o sistema batizado de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área e que já produziu diversos casos de sucesso em fazendas espalhadas pelo país.

Para fazer um raio-x do sistema que promete revolucionar a agropecuária brasileira nos próximos anos, o Canal Rural foi até do 11º Dia de Campo sobre o sistema ILPF realizado na Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO). Antes de começar a nossa imersão no assunto, acompanhe os resultados do estudo científico promovido pela AgBalance que compara a sustentabilidade da produção pela ILPF com sistemas convencionais e saiba como o Brasil está contribuindo para uma agricultura mais sustentável.

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Segundo Paulo Herrmann, presidente da Rede de Fomento – uma parceria público-privada que tem como objetivo acelerar a aplicação do modelo ILPF –,  o encontro em Goiás marcou o início da segunda etapa da aplicação do sistema no Brasil, que deverá tornar o sistema ainda mais profissional. “Estamos iniciando a etapa 2. A divulgação foi o ponto forte da primeira etapa e agora precisamos agregar valor na formação profissional, serviços ambientais e certificações", disse.

A organização agora vai percorrer o mundo divulgando o sistema. "Nós vamos viajar o mundo, onde estão os formadores de opinião e dizer que sabemos produzir e preservar. Nós, do Brasil, vamos alimentar o mundo”, falou.

"Nós vamos alimentar o mundo"

Paulo Herrmann

Presidente da Rede de Fomento

Mas, afinal de contas, todo esse investimento vale a pena? Para produtores rurais que passaram pela fase de adaptação a resposta é uma só: SIM. Mas todos eles alertam para a necessidade de disciplina, estudo da propriedade e acompanhamento de profissionais capacitados.

Vamos conhecer agora quatro casos diferentes de produtores rurais que decidiram investir no sistema ILPF e já estão colhendo os frutos. A primeira história é da produtora rural Maria Fernanda Guerreiro que, ao lado do marido, Luiz Fernando da Silva transformaram o sítio Nelson Guerreiro, uma pequena propriedade em Brotas (SP), em exemplo de inovação e preservação da natureza.

Sítio Nelson Guerreiro

Brotas

São Paulo

O sítio Nelson Guerreiro produz laranja das variedades rubi, pera e charmute de Brotas, que é um produto autêntico da região. Além disso, a propriedade produz fubá de milho integral, sem glúten e moído em moinho de pedra. Na parte de floresta, é produzida lenha de eucalipto para lareira, fogão a lenha e churrasco a partir da madeira de árvores plantadas.

"A minha propriedade é pequena, tem 106 hectares. Sou considerada média produtora e hoje estamos trabalhando em 45 hectares no modo ILPF e posso dizer que estou muito feliz", diz Maria Fernanda.

A família vivia apenas do plantio de laranja quando, em 2008, resolveu diversificar e apostar em um modelo que estava sendo divulgado pela Embrapa. A partir de 2009, a família começou a implantar as mudanças.

“No ano de 2011, nós fizemos o primeiro plantio primário de floresta e, no mesmo ano, estabelecemos o (sistema) Lavoura-Pecuária-Floresta”, lembra a produtora.

No ano seguinte, a família criou outra área, dessa vez apenas para o sistema envolvendo pecuária e floresta. “Fizemos um projeto da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), com a plantação de vários tipos de eucaliptos para saber qual melhor se adaptava.”

Após fazer uma série de testes com os eucaliptos, Maria Fernanda e seu marido decidiram optar pela linha simples e, dessa maneira, concluíram a plantação das árvores em 2014.

Presente

No ano de 2017, o casal se orgulha de criar bezerros de nelore com angus e fazer recria de novilhas. “Temos 1,7 unidade por hectare de animais ao ano. Sem adubação de pastagem, pois plantamos milho no ciclo”, conta Maria Fernanda.

Com o sistema em módulo avançado, a família produz além do gado, cerca de 3 hectares de milho, de onde tira o fubá integral que é vendido para vários restaurantes e tem como principal cliente a chef Paola Carosella, estrela do programa Masterchef Brasil.

A fazenda produz lenha com o material de desbaste e desrama dos eucaliptos. Segundo Maria Fernanda, o material oferecido é uma lenha fina, ideal para lareira e churrasqueira. Também na área de floresta, o sítio Nelson Guerreiro produz mel, que é vendido nas feiras regionais.

Desafios

Após seis anos dentro do ILPF, Maria Fernanda diz que alguns desafios ainda precisam ser vencidos. É o caso das árvores que estavam plantadas em linhas duplas e triplas, e que tinham o desenvolvimento prejudicado por causa do sombreamento das plantas vizinhas.

Fora isso, a família garante que o sistema transformou a realidade do sítio e ampliou a produção em todas as áreas.

Conheça o sítio Nelson Guerreiro

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Fazenda Modelo II

Ribas do Rio Pardo

Mato Grosso do Sul

O segundo caso de sucesso vem da Fazenda Modelo II, localizada em Ribas do Rio Pardo, em Mato Grosso do Sul. Quem traz a história da propriedade é a administradora da fazenda Yula Cristina Gomes Cadette, que conseguiu recuperar a propriedade da família que sobrevivia apenas de pecuária, em um pasto de 7.800 hectares com sinais de degradação.

Foi no começo dos anos 2000 que ela resolveu investir no modelo ILPF, mesmo sabendo da qualidade do solo, composto por areia quartzosa, considerado impróprio para a agricultura.

“Para evoluir e superar os desafios, nós procuramos uma consultoria para cada setor que fomos mexer e isso foi fundamental. Essa é uma dica que dou para quem quer iniciar no ILPF: procure especialistas”

Yula Cristina Gomes Cadette

Proprietária da Fazenda Modelo II

Como o terreno de sua fazenda não era bom o suficiente para a agricultura, o primeiro trabalho a ser feito foi na fertilização da área. “Para a gente, é fundamental ter uma palhada para produzir qualquer coisa e foi assim que começamos com soja, milho e feijão”, relata.

Em 2006, a fazenda entrou com a irrigação por pivôs, por causa das condições climáticas da região. “Estudos mostram que há 30% de chance de ocorrer um veranico na região e, convenhamos, 30% é muita coisa”, explica a proprietária da fazenda.

No mesmo ano, foi introduzida a floresta, com linhas de eucalipto com 12 metros de rua, criando o sistema pecuária-floresta. "Cada árvore pode ter vários usos e o nosso desafio é conseguir usá-la diversas vezes. Além disso, a árvore proporciona conforto técnico para o gado, que procura a sombra, no sistema que chamamos pró-boi”, diz Yula.

Gado com pivô

Em uma das etapas da implementação do sistema, Yula decidiu dar um passo importante e arriscado sob o ponto de vista da viabilidade técnica: colocar o gado para pastar em regiões com pivô. Segundo ela, o experimento funcionou bem, mas foi bem desafiador.

"Após a implantação de pivôs, colocamos gado sob eles. Apesar de funcionar, é um grande desafio e precisa de um treinamento muito apurado, por isso não recomendamos que se coloque gado no pivô, a não ser que se tenha muita segurança no que se está fazendo", diz.

"Após a implantação de pivôs, colocamos o gado. Apesar de funcionar, é um grande desafio e precisa de um treinamento muito apurado, por isso não recomendamos que se coloque gado no pivô, a não ser que se tenha muita segurança no que se está fazendo"

Yula Cristina Gomes Cadette

Proprietária da Fazenda Modelo II

Resultados

Dados coletados na fazenda entre 2015 e 2016 compararam a produtividade dentro e fora da ILPF. Segundo a produtora, a produção de carne no sistema se mostrou três vezes maior.

“Todo o milho e feno vão para o confinamento e acabamos produzindo para a venda apenas soja e feijão”, diz Yula.

Fazenda Nossa Senhora das Graças

Caarapó

Mato Grosso do Sul

Em Caarapó, Mato Grosso do Sul, o agropecuarista André Bartocci decidiu investir pesado na qualificação de seus funcionários para aumentar a produtividade na fazenda Nossa Senhora das Graças. Na visão do produtor, a pecuária exige muita disciplina e quem não se adaptar a este modelo ficará fora do negócio nos próximos anos.

"O diferencial de um país tropical como o Brasil é que o rebanho recebe muito mais raios solares e acredito que, apresar dos bons resultados, ainda somos muito ruins na pecuária e precisamos evoluir", diz.

O produtor conta que, apesar de o Brasil liderar o mercado de boi gordo, quando ele começou na atividade, no final dos anos 1980, havia pouca informação e o pecuarista, de maneira geral, não sabia medir a lotação em seu pasto.

Com o passar do tempo, o conhecimento foi levado da administração de sua fazenda até o profissional que lida diretamente com os animais, no pasto, o que, segundo Bartocci, trouxe um resultado formidável. "Não precisamos de genética de ponta e sim de melhora no manejo", avalia.

Segundo ele, a rastreabilidade do rebanho garante que os animais se alimentem somente de pastagem e para garantir uma pastagem boa para que o animal atinja 18 arrobas antes dos 30 meses, os técnicos da fazenda investem em alta tecnologia e estudo.

Os animais são pesados a cada 60 dias. Os que não atingem ganho de peso de ao menos 200 gramas por dia são afastados do lote. Além disso, se um lote tiver 50% dos animais abaixo do ganho médio de 300 gramas por dia, o manejo do grupo é reavaliado.

"Não precisamos de genética de ponta e sim de melhora no manejo"

André Bartocci

Proprietário da Fazenda Fazenda Nossa Senhora das Graças

Bem-estar animal

Por fim, o produtor levanta a bandeira da qualidade de vida dos animais. André Bartocci ressalta que não é "porque o animal será abatido que a vida dele não deve ser digna".

Para garantir o bem-estar, na fazenda administrada por ele defende-se a adaptação dos animais, que, mais felizes, comem mais e vivem melhor. Além disso, o produtor de Caarapó se diz contra o uso de qualquer tipo de hormônios ou antibióticos.

Outro fator importante é o uso de créditos de CO² e o respeito ao Código Florestal, preservando parte da área da fazenda com floresta.

Fazenda Santa Brígida

Ipameri

Goiás

Com mais de 10 anos dentro da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, a fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), é um dos maiores exemplos utilizados pela Embrapa para divulgar o sistema.

A proprietária Marize Costa adotou o sistema em 2006, com o objetivo inicial de recuperar pastagens degradadas, já que a fazenda até então era voltada à pecuária extensiva e não contava com máquinas e pessoal capacitado. "No primeiro ano, tivemos que terceirizar a parte agrícola. A boa notícia é que tudo o que ganhei com a agricultura foi usado para pagar as contas, e ainda me sobrou o pasto recuperado. A pecuária então fez o papel dela e assim fomos capitalizando. A partir daí, tivemos que profissionalizar a agricultura. Agora, teremos que profissionalizar a pecuária", conta.

Sem poder contar com maquinário, mão de obra ou muito conhecimento, ela contratou um vizinho para realizar o trabalho de implantação das primeiras lavouras de soja e milho ao sistema. “Colhi e vendi o grão e paguei as contas. No final, o que a Embrapa me prometeu estava lá (no campo): um pasto lindo de primeiro ano. E de graça, porque a agricultura pagou as contas”, lembra.

No terceiro ano de sistema de integração na fazenda, o componente florestal foi incorporado com o plantio de eucalipto. Além de fornecerem madeira, o que representa mais um ganho econômico, as árvores proporcionam sombreamento para o gado e conforto animal, além de fixarem carbono ao sistema.

Uma vantagem importante que o sistema ILPF proporciona a Marize é a possibilidade de produzir o que ela chama de “boi barato”. Segundo a proprietária, em uma pastagem de primeiro ano obtida com o sistema de integração, o custo de produção da arroba é de R$ 55, enquanto a produção da arroba do boi terminado em confinamento custa R$ 88 e a produzida no sistema convencional, em pasto degradado, R$ 112.

“O boi produzido no pasto de primeiro ano vindo do ILPF é um boi barato. Ele me custa R$ 55 a arroba, e nós vendemos essa arroba a R$ 140. E eu tenho pasto de primeiro ano, com alto teor de proteína, todos os anos”, explica.

Em mais de 10 anos de adoção do sistema ILPF, os índices da propriedade mudaram sensivelmente. A pecuária de baixa produtividade, cuja lotação animal na safra 2006/2007 não passava de 0,5 unidade por hectare, produzindo 2,5@/ha/ano, foi substituída na safra 2015/2016, por uma lotação de 4 cabeças por hectare, com produção de 25@/ha/ano – ou seja, uma produtividade 10 vezes maior. As lavouras também ficaram mais produtivas ao longo do tempo. No mesmo período, a produtividade média de soja passou 45 sacas/ha para cerca de 65 sacas/ha. No milho, o rendimento saiu de 90 sacas/ha para uma projeção de até 190 sacas/ha na atual safra.

“O boi produzido no pasto de primeiro ano vindo do ILPF é um boi barato. Ele me custa R$ 55 a arroba, e nós vendemos essa arroba a R$ 140. E eu tenho pasto de primeiro ano, com alto teor de proteína, todos os anos”

Marize Costa

Proprietária da Fazenda Santa Brígida

A diversificação de atividades da fazenda também promoveu ganhos sociais, segundo a proprietária. “Como é um sistema diversificado, no qual temos três fazendas dentro de uma, permitiu que eu contratasse mais pessoas, desse mais emprego e treinasse mais pessoas para trabalhar com a gente. É um ganho social muito importante, no nosso ponto de vista”, afirma.

Após uma década de adoção do sistema, Marize vê as pastagens da fazenda totalmente recuperadas. “Tudo o que quero agora é aumentar o valor agregado em cada um dos itens”, diz. Para isso, a ideia é intensificar a produção de soja e milho na mesma área, produzir carne de animais resultantes de cruzamento industrial e conduzir as árvores do sistema para a produção de madeira.

Conheça a história da propriedade

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Números

Ainda tem alguma dúvida sobre os resultados do sistema? Uma cartilha ilustrativa da Rede de Fomento traz todos os dados da ILPF no Brasil. Confira como ela tem sido aplicada e as projeções para o futuro:

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Created by Tal Garner
On Nov 18, 2021